19.6.10

CINCO

Sentia a cabeça a andar à roda . Sentia-me atordoada , tonta , baralhada , expectante , confusa , histérica , pasmada . Sentia-me irreal .
Sentia que nada daquilo era real . Mas a verdade é que sentia o papel onde ele escrevera na minha mão .
Inspirei bem fundo . (Tinha-me esquecido de respirar...)
Era possível ? Isto podia estar a acontecer ? Depois de 2 longos e (que pareciam) eternos meses , podia esta carta estar na minha posse neste momento ?
Parecia um sonho . Se é um sonho , por favor , digam-me que posso dormir para sempre .
Não me sentia alegre , não sei porquê . Tinha razões para estar mas não me sentia !
Quão estúpida eu era .
Toda esta "não-alegria" me passou rapidamente e a realidade surgiu como uma bala no meu peito - a verdadeira questão não eram todas estas que eu tinha colocado a mim própria , mas o que iria responder.
Peguei numa folha e numa caneta.

(00:02h)
"Querido Diego ,
não sei por onde começar . Eu amo-te , senti a tua falta tanto , nao durmo direito , nao vivo a minha vida , és tudo para mim , por favor vol"

Não , isto seria estúpido e obeccado . Iria ser mais calma , explicar tudo sem pressas e tentar demonstrar tudo o que se tem passado .

(04:23h)
"Querido Diego ,
não sei por onde começar . Desde que tu partiste que nada me resta . Nada fica comigo . Nada me acompanha . Nada permanece . Nem a solidão me faz companhia . Este mundo tornou-se uma vastidão desconhecida , à qual eu não tenho a sensação de pertencer . Pode parecer irracional , mas não sabes o quanto as coisas se tornaram básicas , inúteis , insignificantes , fúteis , banais , monótonas , aborrecidas , sem emoção , sem nada . Tudo se tornou em nada . E apenas esse nada ficou comigo .
Não percebo que se passou com a tua mãe , mas quero que me expliques tudo .
E quero que voltes."


(06:31h)
"Querido Diego ,
não sei por onde começar . Desde que tu partiste que nada me resta . Nada fica comigo . Nada me acompanha . Nada permanece . Nem a solidão me faz companhia . Este mundo tornou-se uma vastidão desconhecida , à qual eu não tenho a sensação de pertencer . Pode parecer irracional , mas não sabes o quanto as coisas se tornaram básicas , inúteis , insignificantes , fúteis , banais , monótonas , aborrecidas , sem emoção , sem nada . Tudo se tornou em nada . E apenas esse nada ficou comigo .
Não percebo que se passou com a tua mãe , mas quero que me expliques tudo .
E quero que voltes.
Não é tarde demais , nunca vai ser . És a única pessoa que pertence realmente à minha vida , e talvez a única pessoa que merece realmente pertencer.
Amei-te , amo-te e amar-te-ei . Sempre , aconteça o que acontecer , venha o que vier .
Quanto ao resto , estou-me a lixar.

Sempre ,
Inês."

coloquei a carta num envelope , e quando amanhecesse , iria aos correios.
Fiquei a pensar naquilo de nao sentir "alegria" . Aquilo só me acontecia nos sonhos . Desde pequenina que em todos os sonhos , por muito feliz que o onho fosse , nunca me sentia feliz nem alegre . era absurdo, tinha noção disso . Mas também nunca me preocupei com isso , devia ser qualquer erro cerebral ou algo do género. o Diego costumava rir-se quando eu lhe explicava as minhas teorias . Mas isso era antes . Ainda não conseguia acreditar que isto estava a acontecer.
Amanheceu. Sempre gostei do amanhecer , era sempre belo e nunca falhava . Era perfeito na sua singularidade.
Fui aos correios , e entreguei a carta . Voltei a pé para casa .
Sentia-me tão... irreal .

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